Enquanto a inteligência Artificial (IA) avança rapidamente no cenário global, muitas empresas brasileiras ainda enfrentam dificuldades para transformar o interesse em ação concreta. Dados da HubSpot apontam que 98% das empresas planejam utilizar IA até o final de 2025, no entanto, poucas possuem um plano estruturado para sua implementação efetiva até o final do ano.
O relatório da Thomson Reuters aponta que 30% das empresas estão adotando IA muito lentamente, e 40% não possuem uma estratégia definida, o que reforça a tese de que a implementação estruturada ainda é incipiente.
Segundo o vice-presidente de Estratégia de Crescimento e Inovação de Portfólio da Keyrus, multinacional de tecnologia, Rodrigo Cruz, o principal obstáculo não está na tecnologia em si, mas na ausência de uma estratégia clara que conecte os objetivos de negócio às capacidades da IA. "Muitas empresas querem adotar essa tecnologia, mas não sabem por onde começar. Elas veem cases de sucesso no mercado e querem resultados semelhantes. É fundamental lembrar que estratégia não significa esperar apenas ganhos de longo prazo — com a abordagem certa, é possível capitalizar resultados no curto prazo enquanto se constrói uma jornada consistente e sustentável de médio e longo prazo. O importante é que os investimentos sejam guiados por propósito e direcionamento estratégico, para gerar valor real em todas as etapas do processo", afirma.
Mercado de IA empresarial cresce exponencialmente
O mercado global de inteligência artificial empresarial está em franca expansão. Projeções indicam que o setor deve crescer de forma acelerada nos próximos anos, impulsionado pela necessidade das organizações de automatizar processos, personalizar experiências de clientes e tomar decisões mais assertivas baseadas em dados.
Esse crescimento reflete uma mudança fundamental na forma como as empresas encaram a tecnologia. "A IA deixou de ser uma promessa futurista para se tornar uma necessidade competitiva imediata. Embora muitas empresas busquem a adoção rápida, é importante entender que apenas o seu uso estratégico traz realmente um retorno positivo", destaca Rodrigo Cruz.
Um levantamento do Goldman Sachs revela que apenas 14% das grandes empresas aplicam realmente a IA de forma eficaz em suas operações. O especialista alerta que a adoção bem-sucedida de IA vai muito além da compra de ferramentas.
"O erro mais comum é tratar IA como uma solução tecnológica isolada. Na verdade, ela precisa estar integrada à estratégia de negócio, suportada por dados de qualidade e acompanhada por mudanças organizacionais profundas", ressalta Rodrigo Cruz.
Investimento estratégico em infraestrutura
Para implementar IA com sucesso, empresas líderes já estão destinando recursos significativos não apenas em tecnologia, mas em toda a infraestrutura necessária para sustentar as iniciativas. Isso inclui investimentos em qualidade de dados, governança, capacitação de equipes e mudança cultural.
"Uma base sólida de dados é o que diferencia o hype da IA da IA que realmente entrega valor. Não adianta aplicar algoritmos avançados se os dados estão desorganizados, se não há governança clara ou se as equipes não estão preparadas para trabalhar com essas novas ferramentas. O investimento precisa ser holístico", destaca o vice-presidente da Keyrus.
O Gartner aponta que, até 2026, a capacidade dos Chief Data & Analytics Officers (CDAO) de promover o entendimento de dados e IA alavancar mudanças na cultura e desenvolver equipes qualificadas será um dos três fatores mais importantes para o sucesso da estratégia de negócios.
Entretanto, as instituições que já avançaram na jornada de IA compartilham características em comum: possuem estratégia de dados bem estruturada, investem continuamente em capacitação, estabelecem processos claros de governança e mantêm foco em casos de uso que geram valor mensurável para o negócio.
Os passos essenciais para adotar a inteligência artificial
Segundo Rodrigo Cruz, empresas que desejam implementar IA de forma efetiva até o final do ano devem seguir cinco passos fundamentais:
1. Definir casos de uso estratégicos alinhados ao negócio : identificar problemas reais que a IA pode resolver, priorizando iniciativas com potencial de ROI claro e impacto mensurável nas operações ou na experiência do cliente.
2. Avaliar e preparar a infraestrutura de dados: garantir que os dados estejam acessíveis, organizados e com qualidade suficiente para alimentar modelos de IA, estabelecendo processos de governança e segurança desde o início.
3. Implementar projetos piloto com escopo controlado: começar com iniciativas menores e bem delimitadas que permitam aprendizado rápido, ajustes de rota e demonstração de valor antes de escalar para toda a organização.
4. Capacitar equipes e promover cultura Data & AI Driven…: investir no desenvolvimento de competências internas, tanto técnicas quanto de negócio, criando uma cultura que valorize decisões baseadas em dados e experimentação controlada.
5. Estabelecer métricas de sucesso e processos de melhoria contínua: definir KPIs claros para cada iniciativa de IA, monitorar resultados consistentemente e criar ciclos de otimização que garantam evolução constante dos modelos e processos.
"Esses cinco passos formam uma jornada estruturada que leva empresas do interesse à implementação concreta. O mais importante é começar, de forma planejada, para construir casos de IA que gerem valor real e uma base sólida para continuar evoluindo", orienta o especialista.
IA como diferencial competitivo
O avanço da tecnologia está redefinindo a competitividade empresarial. Organizações que conseguirem implementar IA de forma estratégica nos próximos meses estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais dinâmico e orientado por dados.
"Estamos em um momento decisivo. As empresas que agirem agora, seguindo uma estratégia clara e bem estruturada, terão vantagens competitivas significativas. Por outro lado, aquelas que continuarem apenas observando o mercado correm o risco de ficar para trás de forma irreversível. A janela de oportunidade está aberta, mas não permanecerá assim indefinidamente", projeta Rodrigo Cruz.
A implementação de inteligência artificial representa não apenas uma atualização tecnológica, mas uma transformação estratégica que pode redefinir a forma como as organizações operam, inovam e geram valor para seus clientes.
